Maternidade ou carreira, como podemos sair desse dilema?

Maternidade ou carreira, como podemos sair desse dilema?

O ano é 2021, quase 1 século depois da mulher ter conquistado o direito ao voto, vivenciando o momento em que turistas espaciais já conseguem viajar pela orbita da terra, e ainda estamos discutindo o espaço da mulher no mercado de trabalho. E por que essa questão ainda precisa ser debatida? A resposta é muito simples. A maternidade ainda é um tabu nas empresas e no mercado de trabalho, simplesmente porque as mulheres podem, se assim o quiserem, tornar-se mães e esse fato continua separando profissionais do sexo oposto.

Segundo uma pesquisa da FGV, mais da metade das mulheres abandonam ou são demitidas dos seus postos de trabalho após 24 meses do nascimento do filho. Depois da pandemia da Covid-19, o cenário se tornou ainda mais drástico, já que, com escolas e creches fechadas, as mães se viram sem maiores alternativas para deixar suas crianças. E as mulheres mais pobres, obviamente, sem poder econômico para contratar um serviço particular, foram excluídas cada vez mais do mercado de trabalho.

Não bastasse a peneira da maternidade, as mulheres que persistem em suas carreiras continuam ganhando menos do que os homens, segundo estudo da Pnad Contínua (2020). Conforme a pesquisa, aos 20 anos de idade, as mulheres já são empregadas ganhando 11% a menos que os rapazes da mesma idade. E essa diferença aumenta proporcionalmente, conforme a idade. Com o passar dos anos, mulheres de 30 a 44 anos ganham 30% a menos que os homens na mesma faixa etária.

Como consequência desse apertado funil que somos forjadas a passar, 22,5% das empresas não possuem nenhuma mulher, ZERO, no quadro de diretores ou conselheiros, nos termos do estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Ter que escolher entre Maternidade ou Carreira, como que podemos sair desse dilema?

É imprescindível que empresas tenham pautas de diversidade e inclusão de gênero em suas políticas, não apenas pelo fator social do tema, mas também por lucratividade. Diversidade resulta em atrair os melhores profissionais do mercado. Segundo estudo da Mckinsey, empresas com diversidade de gênero são 21% mais lucrativas, pois possuem mais senso de pertencimento, engajamento, criatividade e inovação.

Atualmente muitas empresas possuem o benefício de estender a licença maternidade de 4 meses (já prevista em lei) para 6 meses, mas apenas 40% das mulheres fazem essa opção, justamente pelo medo de perder o seu emprego. Esquecem-se, no entanto, que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda exclusivamente a amamentação nos primeiros 6 meses de vida.

Quando falamos em inclusão, queremos dizer que é preciso fornecer segurança e condições para que mulheres possam ser mães e, também, continuar inseridas no mercado de trabalho; é isso que as empresas precisam colocar em prática.

É claro que o Estado tem papel fundamental nesse tema, por exemplo, criando leis trabalhistas que protejam as mulheres, assim como possibilitando o acesso dos seus filhos a creches e escolas em tempo integral, permitindo que as crianças tenham local seguro para se desenvolver, enquanto os pais saem de casa para gerar renda. Como se percebe, ainda temos muito a avançar no Brasil em termos de políticas públicas.

Superar essas estatísticas e se sobressair no mercado de trabalho não é tarefa fácil para o sexo feminino, mas é possível, mesmo sendo uma mãe.

No meu caso particular, quando me tornei mãe, aos 36 anos, eu já tinha uma carreira em andamento. E a chegada da minha filha mudou absolutamente tudo. Foi preciso que eu me reinventasse. Tive que assumir que, sozinha, não daria conta de tudo e, nesse caso, priorizar muito bem as tarefas foi fundamental.

Minhas prioridades se tornaram minha família e minha carreira, tive que deixar alguns outros anseios como viagens, amizades, cursos e hobbies temporariamente para trás. E está tudo bem. Foi a minha escolha, e nada disso me impediu de seguir crescendo e sendo reconhecida na empresa em que trabalho. É claro que tive que fazer minha parte, com muita dedicação e algumas noites em claro.

Meu conselho para quem quer se aventurar na maternidade é: peça ajuda, tenha uma rede de apoio, que possa ser paga ou não. Além disso, ter um parceiro de vida que apoie minha carreira, e que sabe que o filho e as tarefas são 50% de cada um, sempre foi muito importante para me dar o folego e a segurança nos momentos em que precisei.

Por fim, se for possível, escolha trabalhar em empresas que estejam alinhadas com as novas políticas de ESG, que busquem melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Esse tipo de perspectiva empresarial já mostra que se trata de uma empresa com maior sensibilidade para temas de diversidade e inclusão.

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” — Simone de Beauvoir  


Maira Grimaldi

Maira Grimaldi

Possui 20 anos de experiência profissional, já trabalhou nos mercados de pesquisa de marketing, Telecom e está há 8 anos na Wiz Soluções como gestora no segmento de distribuição de produtos financeiros e seguros. Atualmente atua como Diretora de Marketing, Estruturação e Performance na Unidade de Negócios Wiz Parceiros. É formada em Estatística pela Universidade de Brasília e pós-graduada pelo CEAG- FGV/EAESP.


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