Na volta ao trabalho presencial, como fica a saúde mental?

Na volta ao trabalho presencial, como fica a saúde mental?

Com o avanço da vacinação no Brasil, algumas empresas já estão retornando às suas atividades presenciais.

Mas será que estamos realmente preparados para esse retorno?

É sabido que a chegada repentina da pandemia e o rápido avanço do coronavírus obrigaram as empresas e, consequentemente, seus colaboradores a mudarem suas rotinas de forma brusca.

Muitos de nós nos vimos trancados em casa, sozinhos, em silêncio, somente com nossos pets. Outros, tendo que dar conta de reorganizar os ambientes de casa, pois houve a necessidade de dividir o home office com o companheiro, ocasionando algumas situações de conflito como, por exemplo, estar em uma reunião em um mesmo momento.

Tivemos nosso dia a dia revirado de cabeça para baixo em poucas semanas. Reuniões, happy hours e eventos, somente através da tela do computador. Atividades físicas, que antes eram feitas ao ar livre, em academias etc., passaram a ser feitas dentro de casa. O prazer de se sentar à mesa de um bom restaurante e degustar um prato de comida saboroso teve que ser substituído pelo delivery. E, enfim, a parte mais dolorosa de não poder ter contato físico com pais e avós durante muitos e muitos meses.

Sem contar a delicada e difícil missão de lidar com as crianças e adolescentes, nesse cenário pandêmico.

Mães se viram extremamente sobrecarregadas e com dificuldade de conciliar a vida profissional com a pessoal. Ao mesmo tempo em que precisavam dar conta de e-mails e reuniões, também necessitavam ajudar os filhos no homeschooling, administrar as funções do lar e também os sentimentos das crianças que, assim como os adultos, estavam privadas de sua liberdade, afastadas de seus amigos e de outros prazeres diários.

Tivemos que nos adaptar a esse "novo normal", a essa nova realidade cercada de medos, incertezas e mudanças. E assim fizemos. O ser humano tem uma alta capacidade de se adaptar para sobreviver às mais diversas situações, e aqui estamos, após quase dois anos de pandemia.

Aos poucos, a vida vai retornando à era pré Covid-19, com algumas adaptações, é claro.

Mas qual foi o impacto disso em nossa saúde mental?

Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UEFJ) revelou um aumento de 90% nos casos de depressão. Já o número de pessoas com crises de ansiedade e sintomas de estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020.

Sofremos muitas perdas, entre entes queridos, amigos, perdas financeiras, sonhos, e muitas outras coisas que foram arrancadas bruscamente de nós.

Tenho uma amiga que perdeu a mãe na batalha para a Covid, a mãe que cuidava da filha para que ela pudesse trabalhar, agora precisando retornar, não há ninguém para ficar com a criança.

Conheço também mães que tiveram seus bebês durante a quarentena, mães que seus filhos ainda não estão em idade escolar e se acostumaram e adaptaram uma rotina de estarem presentes na vida de seus filhos, ao mesmo tempo em que trabalham.

Por outro lado, a obrigatoriedade do home office trouxe, especialmente às mulheres, uma sobrecarga de tarefas domésticas, o que acarretou o aumento de diversos problemas físicos e mentais.

Tivemos que nos adaptar a uma nova vida e uma nova rotina, e agora precisaremos fazer tudo de novo. Reaprender a conviver em sociedade, a soltar as amarras, trabalhar o medo, e tudo isso deverá ser feito aos poucos, com cautela, pois existem marcas e cicatrizes.

O retorno ao trabalho presencial precisa ser gradativo, levando em conta que mesmo com o processo de vacinação bem avançado, a pandemia ainda está em curso.

Tenho visto muitas organizações aplicando periodicamente, desde o início da pandemia, questionários para entender o momento de seus colaboradores, qual a percepção sobre a volta ao escritório, seus principais medos e aflições.

Acredito que esse seja o caminho correto. O regime híbrido tem se mostrado até o momento uma boa alternativa para as empresas que desejam retornar ao trabalho presencial. Esse método de trabalho proporciona a experiência de um retorno gradativo, ao mesmo tempo em que temos menos pessoas nos escritórios, logo, um risco menor de contaminação.

Vale lembrar que a ciência e os estudos ainda não chegaram a um consenso sobre quando se dará o efetivo fim da pandemia, sendo assim, cabe às empresas decidirem com cautela a real necessidade de retorno de todos os seus funcionários ao regime integralmente presencial.

Ainda reforço aqui a importância ainda maior que terá o papel do RH nas Companhias, no acompanhamento não somente da saúde física de seus colaboradores, mas, também, no cuidado e atenção para com a saúde mental destes, neste momento tão delicado e frágil que todos estamos enfrentando juntos.      


Nathalia Oliveira

Nathalia Oliveira  

Mais de 10 anos de experiência no mercado Segurador e Ressegurador. Administradora, com MBA em Gestão de Seguros e Resseguros e Pós-Graduação em Resseguro Avançado pela Funenseg. Já atuou na área comercial e técnica de Seguros e Resseguros. Hoje atua como Head de TPA na Sedgwick do Brasil, com foco em desenvolvimento de negócios estratégicos na área de Inteligência de Mercado do ramo regulador.


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